Rio de Janeiro-RJ: Ato #PorTodasElas contra o machismo e a opressão
Pelo menos 30 homens abusaram sexualmente de uma mulher em uma comunidade na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Segundo a menina, que tem 16 anos de idade, ela acordou dopada e nua com 33 homens ao seu redor. O crime, que foi filmado pelos próprios estupradores e postado em redes sociais, viralizando muito rápido, estava sendo investigado pelo delegado Alessandro Thiers, envolvido no processo dos 23 presos políticos.
Não demorou para que Alessandro fosse afastado do caso, acusado de ter uma conduta machista com a vítima do estupro. Cristiana Bento, da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima assumiu as investigações do caso.
Algo que chamou atenção quanto ao caso foi a reação de alguns internautas. Em vários portais de notícias puderam ser observados diversos comentários procurando justificativas para o ato dos estupradores. Acusavam a menina de frequentar bailes em favelas, de usar drogas ilícitas, como se estes fossem motivos plausíveis para a violência que a mesma sofrera. Algumas fotos e áudios sem veracidade comprovada chegaram a ser vazados para tentar deslegitimar a acusação. Isto reacendeu um debate muito importante. A cultura do estupro.
No Brasil, até 2014, um caso de estupro era denunciado a cada onze minutos. Pesquisas também indicam que em 70% dos casos, o estupro é cometido por parentes, amigos ou conhecidos da vítima. Também foi concluído que entre as vítimas de estupro, 70% são crianças ou adolescentes, e apenas 10% dos casos chegam ao conhecimento da polícia.
Estes números alarmantes mostram que o estupro não é um crime relacionado a um indivíduo, mas ao homem em geral, que é fomentado por uma cultura machista mantida pela sociedade patriarcal. A cultura do estupro ainda é negada por muitos homens, que tentam de todas as formas individualizar a ação de um estuprador e justificar projetos de leis punitivistas como forma de acabar com o estupro. Alguns ainda vão além e justificam a ação de estupradores.
A cultura do estupro manifesta-se no cotidiano, através de piadas machistas propagadas por homens, - as vezes sem a consciência de estar perpetuando o machismo - de comentários na internet que buscam justificar a ação de estupradores, de investigações tendenciosas em casos de estupros para buscar explicações na ação da própria vítima. Até mesmo a arte pode propagar a cultura do estupro, com filmes, músicas, peças e diversas outras manifestações que aderem a mulher como tendo uma posição submissa ao homem.
Com o debate sobre esta cultura sendo tão pautado nestas últimas semanas, foi puxado um ato na Candelária na última quarta-feira, dia 1 de junho, para mostrar a indignação frente a cultura do estupro.
Milhares de mulheres tomaram a Avenida Presidente Vargas, caminhando da Candelária até a Central do Brasil enquanto gritavam palavras de ordem contra o machismo e suas manifestações.
"O ato foi lindo, não tem como explicar minha felicidade na hora de ver tantas mulheres de todas idades, cores e classes lutando pelo mesmo direito. Foi absurdo, e realmente focou muito na questão da cultura do estupro que acho que no momento (com toda a história da menina dos 33 homens) foi de extrema importância." - Disse uma das manifestantes.
A manifestação terminou por volta das 20 horas, completando assim duas horas de passeata. Houve um jogral, no qual, vítimas de casos famosos de estupros foram citadas, e vivências próprias foram contadas. Algumas intervenções artísticas também foram realizadas pelas mulheres do ato durante o percurso.