Niterói-RJ: Muralismo em Memória da Insurreição Anarquista e pela Liberdade de Rafael Braga
Neste sábado, 19 de novembro, um muralismo e grafite foram realizados em um dos muros da antiga Fábrica de Tecidos no bairro do Barreto em Niterói. A Fábrica foi palco de uma grande insurreição de trabalhadores em 1918 que resultou em importantes conquistas trabalhistas. O grafite também participou da campanha pela Libertação de Rafael Braga.
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A insurreição ocorreu no dia 18 de novembro de 1918 e tinha por objetivo principal a derrubada do governo e a criação de uma sociedade baseada na auto-organização dos trabalhadores, de forma descentralizada.
Em 1917 o país já havia sido marcado por uma Grande Greve Geral onde sindicatos organizados pararam principalmente São Paulo. Os trabalhadores lutavam por melhores condições de vida e trabalho.
Nesta época, as jornadas de trabalho podiam chegar à 16 horas por dias e contavam com a mão de obra de crianças e mulheres em condições precarizadas. As mulheres eram consideradas como mão de obra mais barata e não tinham os mesmos direitos que os homens.
As crianças, muitas vezes não recebiam nenhum pagamento. Os patrões se aproveitavam das falhas que elas cometiam para punir com descontos no final do mês. Há registros de que crianças de 6 anos eram admitidas para trabalhar e que, ao invés de receberem salários, encontravam-se endividadas com seus patrões pois, devido à inexperiência, as crianças cometiam falhas que resultavam em descontos maiores que o próprio salário.
Em 1918 os trabalhadores do Rio de Janeiro passam a se organizar para grandes ações na cidade. No 1o de maio foi decretado estado de sítio na cidade devido a comemoração dos operários pelo dia do trabalho. Mais tarde, trabalhadores dos transportes param as barcas que faziam a ligação Rio-Niterói e os bondes. Os patrões então convocaram as forças militares para reprimir a greve. Diante da violência policial, muitos soldados abandonaram seus comandos e pegaram em armas, se unindo aos trabalhadores.
Foi então que no dia 18 de novembro ocorreu uma grande insurreição iniciada por greve da indústria têxtil, onde diversas fábricas em todo o estado pararam. A Fábrica de Tecidos de Niterói foi alvo de grandes confrontos. Em seguida, diversos outros setores aderem à paralisação e insurreição, principalmente os metalúrgicos e operários da construção civil.
As greves e insurreição não surgiram de forma expontânea, mas foi fruto de longa organização dos trabalhadores que se auto-geriam por diversos conselhos de bairros de forma descentralizada, baseada no princípio federalista, que deu a característica anarquista ao movimento.
Neste período, a organização dos trabalhadores possuía como ideologia principal o anarquismo, que propunha o fim dos governos e patrões, a descentralização e a auto-organização dos trabalhadores.
Os resultados de tal organização foi a aquisição imediata e a longo prazo de diversos direitos trabalhistas: a regularização do trabalho e direitos trabalhistas, redução para 8 horas de trabalho, fim do trabalho infantil, direitos às mulheres, entre outras.
Os efeitos dessa organização operária seguirá por mais alguns anos, mas o movimento anarquista será alvo de repressão por vários governos seguidos, perdendo bastante sua força. Com a consolidação da União Soviética e fundação do Partido Comunista do Brasil, o modelo comunista marxista de organização se tornará o principal.