Bolsonaro ignora os fatos: militares matam cada vez mais inocentes
Evaldo, Marielle, Eduardo, Vinicius, Maria Eduarda... todos tem algo em comum: foram assassinados por forças ligadas diretamente ou indiretamente ao Estado. A fala do presidente Jair Bolsonaro em relação ao fuzilamento do carro onde Evaldo passeava com sua família, no último dia 7, evidencia que o Estado não está preocupado em diminuir a violência da qual a população tanto reclama, mas sim em defender instituições e discursos que a maior parte da população, segundo recente pesquisa do Datafolha, não compactua.
Você sabia que o número de mortos pela Polícia Militar vem subindo nos últimos anos? Em 2017, a PM bateu um record que não batia haviam dez anos. Foram 1.035 mortes causadas por policiais militares, contra 1.137 em 2008, antes do número começar a diminuir. Esses dados são fornecidos pelo Instituto de Segurança Pública para o Rio de Janeiro. Os dados apresentados pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública para o país inteiro apontam para 5.012 mortes causadas por policiais militares na ativa em 2017.
Não apenas alarmante, os dados apontam para um crescimento da letalidade policial que pode ser explicada por uma política de criminalização da pobreza a partir da guerra às drogas que vai ganhando força novamente em discursos de políticos conservadores. A militarização nas favelas já era um projeto no governo petista, com exemplos como o Complexo do Alemão e a Vila Cruzeiro. Ou seja, a violência policial não é uma novidade do governo Bolsonaro. O preocupante em relação à nova administração é o crescimento e favorecimento de um discurso que legitima esses dados.
Foram citados alguns nomes no começo da matéria para ilustrar que dentro desses mortos pela polícia, grande parte não tinha qualquer tipo de envolvimento com atividades ilícitas. Ou seja, a Polícia Militar não mata apenas em confronto com bandidos, mas em qualquer contexto em que se sinta à vontade para matar, principalmente quando atua nas periferias. É o clássico "atirar primeiro e perguntar depois." E o resultado deste método é a morte de milhares de inocentes, como o caso de Evaldo, músico de 51 anos metralhado pelo Exército Brasileiro.
Quando Jair Bolsonaro fala que o Exército não matou ninguém, e que trata-se apenas de um incidente, ele desconsidera todas as outras vítimas dos militares nos últimos anos. O Rio de Janeiro, após a intervenção Federal, registrou um aumento no número de tiroteios e no número de mortos - para cerca de 300 em poucos meses - em operações policiais em parceria com o Exército. Um exemplo foi o menino Vinicius, morto enquanto saía para ir para a escola. Parece óbvio que o Exército mata pessoas, e que grande parte dessas pessoas é inocente, mas para Bolsonaro e seus colegas de governo, isso não acontece.
Mas por que o Exército, que em teoria existe para defender a população, está matando inocentes?
Muitas pessoas não entendem esta lógica e por isso desacreditam os dados. Acontece que tanto o Exército quanto a Polícia Militar estão, há muito tempo, atuando em prol de uma política que já se mostrou falida em diversos países, mas que é amplamente defendida por Jair Bolsonaro: a guerra às drogas. A proibição dos entorpecentes gera um contexto em que grande parte do território é controlado por facções criminosas que lucram com a venda destes entorpecentes. Ou seja, proibir as drogas favorece o crime, e a violência policial não resolve o problema.
Além de terem sido mortas pelo Estado, direta ou indiretamente - indiretamente a partir da atuação da milícia, que é uma extensão clandestina da Polícia Militar - estas pessoas ainda tem outra característica em comum: são de origem periférica e negros. Ou seja, existe um alvo muito específico entre a população para os militares.
Talvez isso explique porque, segundo o Datafolha, mais da metade da população negra brasileira tenha medo da polícia.
Mas então qual a solução?
Existem diversas soluções a longo prazo, mas a curto prazo, os maiores debates que podem levar a algum tipo de melhora no contexto da violência urbana seriam o fim da política de guerra às drogas, como já foi feito nos Estados Unidos, e a desmilitarização da polícia, além do fim da atuação do Exército Brasileiro nas ruas, que segundo as estatísticas, não diminuiu a violência urbana no Rio de Janeiro.
É preciso abrir a mente para novas opções de políticas que não passem pelo combate da violência urbana por meio de mais violência, pois esta já foi provada ser uma farsa. Já a legalização das drogas e a desmilitarização da polícia trazem exemplos de melhorias onde foram aplicadas. Claro que apenas introduzir estas medidas não solucionará o problema e que existem especificidades em cada país e em cada local, mas é necessário levantar esse debate entre a população para que a violência possa um dia diminuir de verdade.
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